quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Os problemas não são os outros

Nunca estamos satisfeitos com os resultados. De uma hora para outra todos os brasileiros consideram-se técnicos e conhecedores imbatíveis de todas as modalidades esportivas. Tão conhecedores que já escuto, ainda sem o fim da primeira semana olímpica, que o desempenho da equipe nacional é pifio. Qual a base para a comparação? Como fechar os resultados sem a participação de grande parte dos atletas? De onde sai esta compulsão ao linchamento moral de atletas e, por tabela, à divulgação do discurso de vira-latas? Este discurso parece embutir um auto-flagelo misturado com humilhação e auto-comiseração. E vem ainda acompanhado de risadas cínicas, deboches disfarçados, uma idéia de que eu infelizmente participo desta meleca nacional mas não faço parte do elenco. Há que levar em consideração que a maioria não goza da menor afinidade com a caminhada de um atleta da equipe de judô, por exemplo, das eliminatórias pré-olímpicas ao ginásio olímpico. É uma tremenda brutalidade, asquerosa, imaginar que um atleta, consideradas todas as dificuldades, seja diminuído com a cravada mal esboçada de que tenha alcançado um apenas décimo lugar!!! Ou, da mesma maneira insensata, criticar o fulano por ser eliminado logo à primeira fase (esquecendo-se que ele venceu várias fases anteriores, lutando por índices e desempenho). O pessoal lança discursos poéticos de louvação aos pilotos de uma Fórmula 1, em tudo elitista e em nada inclusiva, e não toma o menor conhecimento de como um judoca, negro, pobre, luta contra as adversidades para enfrentar os melhores judocas de todo o mundo na sua categoria. Arrisco o palpite de que a ausência de ponderação deve-se ao tradicional discurso do Brasil Potência. Quando, por qualquer motivo, os delírios do Brasil Gigante não se realizam, as pessoas ficam completamente enlouquecidas, aderem ao discurso de que nada presta e o nosso desempenho é um verdadeiro horror. Menos, menos, por favor. Agora chegamos ao final da primeira semana. Muitos esportes de tradição da equipe olímpica mal iniciaram. Alguns esportes coletivos, de bons resultados nas participações brasileiras, ainda estão em fase de eliminatórias. Talvez o dever de casa deva ser realizado por outras linhas. Ao invés de nos preocuparmos com medalhas no peito, deveríamos pensar na verdadeira inclusão das pessoas no mundo esportivo. O Juca Kfouri trouxe dado estarrecedor, dias passados: somente 12% das escolas nacionais contam com quadras esportivas. Quem sabe agitamos menos o discurso das irrealizadas conquistas do Brasil Grande e pensamos na construção do Brasil da Qualidade, onde todos possam participar do esporte para a boa qualidade de vida e como a associação entre a saúde e as práticas esportivas.

Um comentário:

Unknown disse...

OS ESPORTISTAS BRASILEIROS JÁ MERECIAM UMA MEDALHA DE CHEGAREM ONDE CHEGARAM.NUM PAÍS SEM INCENTIVOS AO ESPORTE E EDUCAÇÃO,JÁ FICA SENDO MÉRITO NÃO "CAIR NA BANDIDAGEM".PARABÉNS A TODOS,NÃO SÓ ATLETAS,MAS TODO BRASILEIRO QUE MESMO COM AS DIFICULDADES CONSEGUIU ULTRAPASSAR AS BARREIRAS DO SUBDESENVOLVIMENTO