terça-feira, 31 de maio de 2011

As perigosas relações congressuais

Há muito circulam informações que dizem ser o Parlamento brasileiro o mais corrupto e o mais caro do mundo. Difícil definir o mais e o menos nesta matéria. Todavia, a matéria da Carta Capital sobre os excepcionais retornos obtidos por parlamentares estadunidenses em aplicações financeiras, ilustra uma outra modalidade de perniciosas relações, um tipo sofisticado de corrupção.
E os deputados e senadores também ficam ricos nos EUA
Luiz Gonzaga Belluzzo
30 de maio de 2011 às 16:20h
A revista Business and Politics estampada no site Berkeley Eletronic Press publicou um artigo sobre os retornos excepcionais auferidos pelos portfólios de ações adquiridos por deputados americanos entre 1985 e 2001. Os pesquisadores Alan Ziobrowski, James Boyd, Ping Cheng e Brigitte Ziobrowski já haviam investigado o desempenho dos rendimentos incorridos nos portfólios de ações adquiridas pelos senadores entre 1993 e 1998.

Elaborado com o cuidado e o rigor exigidos por tal empreitada, o estudo avalia a evolução dos rendimentos dos parlamentares ao longo do tempo-calendário e conclui que as ações adquiridas pelos integrantes da Câmara dos Deputados (House of Representatives) auferiram retornos “anormais” e estatisticamente significantes. Os ganhos dos deputados com suas carteiras de ações bateram a evolução dos índices do mercado, em torno de 6% ao ano. Nada mal.

Os rendimentos anormais obtidos pelos deputados foram, no entanto, substancialmente menores do que os auferidos pelos senadores, considerados os mesmos períodos. Os autores do estudo supõem que o diferencial de rendimentos deva ser atribuído “à menor influência e poder dos deputados” (imagino eu na definição de matérias cruciais para os mercados).

Seja como for, o estudo encontrou “fortes evidências de que integrantes da Câmara de Deputados têm acesso a algum tipo de informação não disponível publicamente, utilizada para obter vantagem pessoal”.

Para definir “retornos anormais” Ziobrowski e Cia. adotam a Hipótese dos Mercados Eficientes, que afirma a impossibilidade da realização de estratégias “ganhadoras” acima da média. Mas a experiência demonstra à saciedade que os mercados financeiros estão povoados de agentes que se valem de assimetrias de informação e de poder. Os protagonistas relevantes nesses mercados são os grandes bancos, os fundos mútuos os fundos de pensão e a tesouraria de empresas. Esses agentes formulam estratégias baseadas numa avaliação “convencionada” sobre o comportamento dos preços. Dotados de grande poder financeiro e de influência sobre a “opinião dos mercados”, eles são formadores de convenções, no sentido de que podem manter, exacerbar ou inverter tendências. (Suas estratégias são mimetizadas pelos investidores com menor poder e informação, ensejando a formação de bolhas altistas e de colapsos de preços.)

Enquanto os parlamentares americanos ganham sistematicamente a dianteira na corrida pelos rendimentos, os trabalhadores com mais de 50 anos suportam as agruras da posteridade do crash e as dores da economia anêmica. Uma pesquisa do Public Policy Institute revela que os veteranos não têm vida fácil na América de Obama. Estão compelidos a conviver com o aumento da taxa de desemprego, as aflições de período maior no amaro far niente, e, derradeira desgraça, enfrentar o encolhimento das contas de poupança, as 401K, destinadas a prover sua aposentadoria.

Em uma amostra de 5.027 homens e mulheres, apenas 8,9% dos entrevistados constataram uma recuperação do valor dessas aplicações para o nível anterior à crise. Quase metade, ou 49,3%, começa a se recuperar das perdas impostas pela crise financeira e 41,4% não se recuperaram dos prejuízos incorridos pela queda dos preços das ações e ativos tóxicos com classificação AAA e, posteriormente, pela redução dos rendimentos dos títulos de dívida pública e privada.

Nos anos 1980, as ilusões da “economia da oferta” deram o pontapé inicial no jogo da desregulamentação. Sob a forte e notória influência dos lobistas das grandes instituições financeiras, o Congresso americano acelerou as reformas da legislação que abriram caminho para as práticas “inovadoras” dos mercados. As mudanças culminaram na Lei Gramm-Leach-Bliley, que permitiu a criação dos supermercados financeiros, grandes demais para falir, protagonistas maiores da crise iniciada em 2007. Nos Estados Unidos, a população remediada comportou-se como sempre: tentou surfar na onda do enriquecimento fácil e ilimitado. Como no início dos 1900 e na eufórica década dos 1920, os tempos não podiam ser mais benfazejos para os vigaristas, encantadores de serpente, pitonisas e oráculos de todos os gêneros.

A conversa mole de transparência e austeridade encobriu o movimento real das coisas: sob o véu da racionalidade econômica esgueirava-se a mão que iria pilhar a poupança ou a aposentadoria dos desavisados. Os gênios da nova finança estavam dispostos a utilizar quaisquer métodos para desqualificar as resistências aos seus anseios. Imobilizaram homens e mulheres nas teias do pensamento uniformizado e repetitivo: “Não há alternativa”.



Luiz Gonzaga Belluzzo

Luiz Gonzaga Belluzzo é economista e professor, consultor editorial de CartaCapital.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quem é o professor de Deus?

Nos hábitos bem se nota que imagina ter nascido para ser o melhor. Escolheu carreira e amizades com o intuito de louvação a si mesmo e de endeusamento pelos próximos medíocres. Assume, por vezes, o ar simulado de simplicidade quando, na verdade, quer no próximo passo, assumir a posição do interlocutor. Mal resolvido, implica com todos que não sejam os seus sabujos. Como jamais erra, toda vez que se defronta com adversidades, imagina ser vítima de complôs ou artimanhas. Lê o que lhe parece afortunado quando, na verdade, lembra um personagem de Lima Barreto na Bruzundanga com falsa literatura e a elegia ao dogmatismo (que ele ainda não compreendeu o que é).
Os professores de Deus são figuras frequentes na academia.
Como identificá-los:
1. Julgam possuir qualidades físicas e de beleza que são insuperáveis;
2. Repetem sem criatividade os materiais obtidos em outros lugares, e, logo depois, apresentam aos outros como se fosse escolha ou criação sua;
3. Desconsideram toda e qualquer produção ou obra de pessoas com quem tenha convivência (esta característica se explica pela necessidade de preservação, não suportar qualquer outra pessoa que possa oferecer algo melhor que ele - ele é o melhor);
4. Gostam de alardeio, propagar feitos invencíveis, conquistas inéditas que, quando analisadas com detido cuidado, nunca ocorreram daquela maneira;
5. Tratar os alunos como pasto, para pisar e contemplar, depois de defecar por cima;
6. Apegam-se ferrenhamente aos lugares-comuns embora os apresentem como o suprassumo da sabedoria;
7. Falam sobre qualquer coisa (mesmo sem saber do que estão falando) e julgam que a sua opinião é irrefutável;
8. São paladinos da moralidade, cuidando da preservação do que eles julgam visão de moralidade e probidade (embora deslizes éticos sejam comuns);
9. Nunca erram. Se houve erro, foi conspiração dos outros; se não foi conspiração, o erro foi uma virtude.

Você conhece algum?

sábado, 28 de maio de 2011

Interessante

O bom som do The Smiths: http://www.youtube.com/watch?v=dfvGbgUnsdA


http://www.youtube.com/watch?v=dfvGbgUnsdA

tropentag

Atenção, a data para a submissão de trabalhos ao evento encerra no próximo dia 31. Maiores informações:http://www.tropentag.de/

Devassa a 2 e 38

Sim, a cerveja Devassa já se pode encontrar, gelada, a R$ 2,38, em Uberlândia. Pouco mais amarga que outras concorrentes, a Devassa deixa o panteão das fora de série para se popularizar. A qualidade se manteve (ao menos até agora).

Direito alternativo

Recebi a notícia, há pouco, de que o professor Edmundo Lima de Arruda Júnior realizará, em outubro, o congresso comemorativo dos 20 anos do 1 Encontro Internacional de Direito Alternativo.
Eu participei do primeiro, em Floripa, no setembro de 1991.
Muita gente, muita discussão no evento que marcou época.
Farei a divulgação possível.

templos e cemitérios

Hoje apliquei trabalho com julgado do STF, em turmas de direito constitucional. Para entender a razão da inserção deste assunto, o STF aplica a tese de que cemitérios, anexados, vinculados ou com finalidades entranhadas à igrejas, gozam de imunidade tributária, a mesma imunidade do artigo 150, VI, b da CF.

especialização em direito constitucional

No momento, preocupações com a estrutura de uma nova especialização na UFU, em direito constitucional. Esperamos lançá-la no segundo semestre.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

tears for fears no Brasil

Para o pessoal retrô, vai o link com informações:

massa ao funghi

Para quem gosta, massa ao funghi:
- massa
- 300 gramas de funghi, seco
- 1 lata de creme de leite
- 1 copo com cachaça
- preferencialmente talharim ou fettuccine
- 1/2 cebola (bem picada)
Vou com a frigideira, com uma colher de sopa de manteiga já estalando na fritura, lanço as cebolas, douro, lanço o funghi, a fritura começa a ganhar a cor escura, vou de creme de leite (baixando o fogo), boto a cachaça e flambo, desligo. A massa já cozinhou e basta lançar por sobre, de maneira a lambuzá-la com o molho.

* Antes de fritar o funghi, dou um banhozinho, de leve, para umedecê-lo.

atrasada...de Goiânia

Não pude postar antes por isso vai em retrospectiva. Novamente em Goiânia, de quinta, dia 19, ao sábado, vários interessantes encontros: palestra sobre biocombustíveis na FASAM, com grande público; sexta, palestra para os alunos da UFG, sobre controle de constitucionalidade; sexta, especialização.
Como sempre, as boas companhias e boas refeições.

mudanças em curso

Ontem tive a feliz notícia da aprovação de alguns pleitos na Universidade Federal de Uberlândia. Agora, e também com a comunicação aos frequentadores do blog, poderei dedicar um cadinho mais de tempo às pesquisas. Informarei na sequência.

Patrocínio

Ontem tive a honra de proferir palestra em Patrocínio, na Unicerp. Um público atento, de um curso iniciante porém sério, organizado. Além da palestra, as perguntas interessantes fazem acreditar que há muita massa crítica e possibilidades de estudo do direito, por todo o Brasil. Depois, a muito boa companhia do coordenador do Curso, Professor Hugo, o colega Magalhães e o, também catarinense, como eu, João, fomos ao Traíra, ceiar um bom peixe, na pacata noite patrocinense.