domingo, 26 de outubro de 2008

O RECADO DAS URNAS

Acho que é dispensável falar que as análises feitas, antes ou depois dos resultados de hoje, são cabalmente informadas pela indigência intelectual, a mediocridade no escalar os argumentos e, não em poucos casos, formas travestidas de fazer campanha. Apenas para esfriar os ânimos da patotada, é prudente salientar que é pouco provável que SAIA UM RECADO DAS URNAS a informar o pleito de 2010. As linhas que teço a seguir, são informadas pela mesma preocupação que externei noutros comentários. Com sinceridade, sou profundo admirador do Governador José Serra. Tão admirador que não consigo entender a querença mal disfarçada de parte da imprensa à - ainda não confirmada - candidatura a presidente do tucano. Minha crítica não é aos feitos do governador (ou aos seus desfeitos), mas a forma sem-vergonha de alguns analisarem os resultados de hoje. É bem mais honesto declarar apoio, sem formas veladas e obscuras, e dizer que não suporta o governo de Lula. Aos argumentos.
Primeiro, é imbecil a tentativa de ler vitórias ou derrotas de Lula na eleição de hoje. Alguns dirão que Lula perdeu, outros dirão que Lula venceu. Bom, de concreto, até o momento, temos o modesto aumento do número total de votos dados ao PT e o crescimento - expressivo - de prefeituras governadas pelo PT. Façamos um exercício de imaginação (já que a imaginação anda em falta nos dias de hoje). Vá lá que a economia continue bombando, como está hoje, a despeito da crise financeira. Vá lá que, em 2010, o país esteja crescendo 6% ao ano. Provavelmente, Lula apresentará um candidato que será fortíssimo, não adianta alegar que não elegeu o prefeito de São Paulo (visto que alguns insistem no argumento insustentável de que, se Kassab se eleger, Serra é forte candidato), e continuará ostentando as altíssimas taxas de aprovação de hoje. Agora, imaginem se a crise pega o país pelo colarinho, recrudescendo o desemprego, baixando os níveis de popularidade e acirrando a cizânia. Qualquer um que empunhe uma boa bandeira oposicionista está bem cotado.
Segundo, a imprensa precisa, urgentemente, lembrar que a federação brasileira é composta por 26 unidades federadas, mais o DF. São Paulo é o maior colégio eleitoral, é fato. São Paulo não é o único Estado. Como relembrar é preciso, não esqueçamos que Lula perdeu a eleição em São Paulo, em 2006, mas continua Presidente.
Terceiro, se a eleição de hoje foi um teste para Lula, faça o seguinte jogo de aposta com os analistas: qual o candidato de oposição que ganhou o pleito atacando o presidente? Desconheço.
Quarto, o PSDB tem bons candidatos, Serra e Aécio. Tirando o susto, não esqueçamos que a aliança PT_PSDB deverá, mui provavelmente, eleger o prefeito de BH. Se eleger prefeito de capital automaticamente habilita alguém a ser presidenciável, Aécio e Serra estão emparelhados.
Quinto, mais uma vez o relembrar, é bom trazermos à baila as análises feitas no auge do mensalão, em 2005: Lula foi dado como politicamente morto...para se eleger presidente 8 meses depois!!!
Sexto, e para mostrar que nada é tão linear, Serra foi candidato em 2002 carregando o fardo da desaprovação a FHC. Mesmo assim, logrou excelente votação e, com força, foi ao segundo turno. Na época, no inverso, a prefeita de São Paulo era Marta que tinha derrotado, 2 anos antes, o candidato tucano (que governa SP). E Lula perdeu a eleição na capital. Ou seja, a forma como se pretendem alinhar os fatos não guarda qualquer possibilidade de resultados.

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